O sol rompendo a gravanha, sábado de frio e sequidão na Faz Bom Jesus, a beleza triste do amarelado da paisagem. Lote de queixada desfila no pátio, passa ao lado do Feijão, ele com balde de leite voltando do mangueiro. O bando segue em fila para beber água, o líquido sagrado, na seca severa só existe por ação humana. Energia solar e bomba elétrica. As queixadas inóspitas ao contato humano, agora dividem pacificamente o mesmo espaço. A miséria gera solidariedade. As vezes acontece com os humanos.
Floriza avisa que lenheiro está no fim. Duas lascas de angico e um toco de canjiqueira jogados tristes no canto do fogão a lenha, confirma a velha pantaneira. Feijão e Floriza são os únicos habitantes nesse distante e esquecido Pantanal. Gente só quando um asa dura rompe o silêncio e o céu azul.
O machado tinha o formato e a cor das mãos do Feijão, como o velho violão de João Gilberto ou a pena de Dostoievski. Feijão e seu machado eram um só corpo. Seguiram os três e uma mula com duas bruacas vazias. O destino um anjico que raio derrubou na beira do corixo do pato, hoje seco. Uma veia branca cheia de curva riscando a paisagem.
Feijão fez o serviço sob olhar encantado de Floriza. A ida e volta do machado, a pele escura e musculosa do bugre, jatos de suor voando no ar seco, lascas de madeira descolando dos tocos, Floriza pegando um a um, iam ajudar na hora de acender o fogo.
O tereré na sombra da piúva, areia fria e gostosa da beira do corixo, o amor!!
O sexo selvagem termina com risada larga de Floriza. O olhar blasé da velha mula é única testemunha do amor verdadeiro.
Por: Leonardo Leite de Barros