A ESG Pantaneira

ESG não nasceu de uma invenção moderna, é uma necessidade premente de há muito buscada pela humanidade. O Pantanal e sua gente tem coisas e ensinar.

Foto: Leonardo Leite de Barros - Cavalgar no Pantanal

Foto: Leonardo Leite de Barros - Cavalgar no Pantanal

Peguei o meu cavalo e do meu velho pai na forma, ainda escuro, era o combinado. Encilhei o meu e o dele. Depois do almocinho saímos, só os dois, calados e felizes.

Andar a cavalo no Pantanal é terapia. O início sempre eufórico mostra soberba. Depois, o cansaço e a dor, traz finalmente a sensação de insignificância. O prêmio é uma certa humildade.

Quando avistamos a tapera do velho Inácio o sol já ia alto, apeamos. Tudo muito bem cuidado. Cachorro latiu, galinhada deu aquele olhar de desdém. Só estava Sebastiana em casa. Sentamos embaixo do tamarineiro, a água veio acompanhada do tererê. Inácio estava no trecho arrumando uma cerca. Depois da hidratação, meu pai pediu para entrar na cozinha, me puxou pela mão. Tudo limpo e arrumado como no terreiro. O velho levantou as panelas e exigiu meu olhar.

Voltamos a dolorosa terapia, cavalgamos em volta de um gado gordo e bonito, veio a lição; " você viu a panela da Sebastiana? Quase não tinha carne meu filho. Como vamos justificar a exuberância desse gado para essa família?" No fim do dia a ordem para o Capataz selou a lição, carne na panela da Sebastiana e do Inacio. Aprendi o que décadas depois virou o S da sigla pomposa.

Além da humildade, cavalgar no Pantanal ensina a verdadeira relação com o meio ambiente . A insignificância humana é evidente frente a selvagem, bela e inóspita natureza. Respeito, cuidado e amor ao "E" da sigla pomposa, nasce da dor. A adoração quase religiosa da população urbana frente a natureza nasceu nas ruas, no asfalto, no concreto. A plataforma foi a tv com imagens maravilhosas, sempre no ar condicionado, sem dor. Precisamos muito dos nossos ecologistas, biólogos... Esse povo, talvez, esteja precisando andar a cavalo no Pantanal, da terapia, da dor, da humildade. O "E" vai exigir respeito ao conhecimento empírico de nossos bugres e de alguma dor.

As tradições pantaneiras são um tratado de governança, as relações criadas por séculos de isolamento são uma lição ainda pouco estudada e conhecida. O "G" da sigla moderninha.

ESG não nasceu de uma invenção moderna, é uma necessidade premente de há muito buscada pela humanidade. O Pantanal e sua gente tem coisas e ensinar.

Por: Leonardo Leite de Barros

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