Adolescência no Brejo
A infância no Pantanal acaba com possuir uma traia de arreio. Antes da posse da traia completa você é guri, ente sem serventia, um seca pote, é usado para mandar recado, um feijão perdido.
A traia de arreio chega como o coroamento, um prêmio de galpão. Depois de muito fazer fogo para o chimarrão de madrugada, depois de ajudar a lonquear o couro do novo laço, depois de ser o tropeiro seca e verde, rola a passagem. Alguém larga a faca no pelego e aparta a nesga para o guri, chincha e sobre chincha são fabricadas de restos, o velho mil e oito toma uns tapas, umas costuras, loro e estribo, cada um vai ajudando como pode. O resultado não tem beleza, um amontoado de couro e aconchegos. Com a entrega da traia de arreio a transição.
O menino pantaneiro finalmente possui sua primeira traia de arreio, afivela ela no seu montado queixudo, trote duro, quase afastado da beleza.
A novilha orelha sai para ir embora, o guri ocupa o rabo de tatu, larga sem dó na tripa do montado, o dedo corre na ligeira, a corda estufa a mão, um movimento na argola e a armada tá pronta, duas bolachas na mão e uma cruzada. O tirão do laço pegou todo mundo olhando.
Acabou a infância, aquele menino não existe mais. O grito com voz ainda dissonante da infância" cuidado a ronda!!"
Ele agora é homem respeitado. A doença chata da adolescência as vezes dá uma folga no Pantanal.
Por: Leonardo Leite de Barros