Trump eleva tarifas: Brasil pode perder mais que EUA em retaliação?

Entenda o impacto das novas tarifas de aço e alumínio sobre a economia brasileira e as possíveis consequências de uma retaliação.

Trump eleva tarifas: Brasil pode perder mais que EUA em retaliação?

Donald Trump anunciou novas tarifas sobre importações de aço e alumínio, gerando impacto no setor brasileiro. O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, com 48% das vendas externas direcionadas ao mercado americano (US$ 5,7 bilhões em 2024), enfrenta um cenário desafiador.

O ex-secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, alerta para os riscos de retaliação. Segundo ele, uma resposta brasileira pode gerar perdas significativas para a economia nacional, devido à assimetria entre as economias americana e brasileira.

"Neste momento, a melhor opção para o Brasil seria não reagir, não retaliar imediatamente — porque isso pode piorar ainda mais os custos para a economia brasileira — e sim abrir um canal de diálogo com a diplomacia americana." concluiu Lucas Ferraz.

O governo Lula cogita taxar big techs americanas como retaliação, mas Ferraz defende o diálogo. Ele lembra que Trump já havia imposto tarifas em 2018, posteriormente negociadas sob o governo Jair Bolsonaro, aliado de Trump, resultando em cotas de importação.

"Isso pode acontecer de novo agora? É claro que sim, mas tudo dependerá muito do canal, da qualidade da comunicação entre o Brasil e os Estados Unidos nesse momento." - Lucas Ferraz.

A média tarifária brasileira de importações (12%) é superior à dos países desenvolvidos da OCDE (4%), ponto já levantado por Trump. Ferraz explica que essa diferença resulta de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ferraz destaca a menor dependência do comércio exterior americano em relação a outros países, sugerindo que Trump possa usar essa assimetria para obter vantagens. Ele cita exemplos anteriores em que Trump impôs tarifas ao Canadá e México, mas recuou após negociações.

"Trump vem falando sobre impostos e tarifas desde que assumiu o seu segundo mandato, mas fica aquela dúvida de até que ponto ele vai adiante nas suas afirmações. Gera um pouco a impressão de que ele pode estar utilizando a menor dependência do comércio exterior americano, vis-à-vis os outros países do mundo, essa assimetria, pra tentar conseguir extrair algum tipo de vantagem do resto do mundo." disse Lucas Ferraz.

Estudos sobre o primeiro mandato de Trump mostram que suas políticas tarifárias não geraram os resultados esperados (empregos industriais e aumento de exportações), e o consumidor americano arcou com os custos. Ferraz acredita que Trump continuará usando o comércio exterior como ferramenta de negociação, mas em ações bilaterais e mais específicas, ao invés de uma abordagem global.

Em 2018, o Brasil negociou cotas de importação com os EUA, mantendo tarifas de 10% para alumínio. Essa possibilidade de negociação pode se repetir. A relação comercial entre Brasil e EUA é complexa atualmente por questões ideológicas, tornando o diálogo ainda mais difícil. O Brasil exporta cerca de 11% a 12% de suas exportações para os EUA, sendo o maior destino das exportações industriais brasileiras.

Apesar da importância da relação comercial, a ascensão da China diminuiu a relevância dos EUA para o Brasil. Apesar do potencial impacto setorial, o impacto agregado ao PIB brasileiro tende a ser pequeno. Em relação ao etanol, a isenção de tarifas pode ser um ponto estratégico para negociações.

*Reportagem produzida com auxílio de IA