Em audiência no Senado, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, surpreendeu ao adotar um tom distante das expectativas do governo Lula sobre a política de juros. Contrariando as apostas de um afrouxamento monetário, Galípolo indicou que a inflação persiste acima da meta estabelecida.
As declarações de Galípolo ocorrem em um momento crucial, marcando sua primeira atuação à frente do Comitê de Política Monetária (Copom) sem a influência direta de seu antecessor, Roberto Campos Neto. A postura do novo presidente sugere uma continuidade na política de aperto monetário, mesmo diante das pressões políticas por uma redução das taxas de juros.
Ainda em fevereiro, o presidente Lula expressou publicamente a expectativa de que Galípolo ajustaria a taxa de juros. No entanto, a realidade parece divergir das esperanças do governo, conforme evidenciado pelo discurso do presidente do BC no Senado.
"Sobre o nosso processo de decisão, eu já tinha dito em dezembro que o Roberto [Campos Neto] tinha sido generoso na última reunião de permitir que eu pudesse assumir um papel maior de protagonismo." disse Gabriel Galípolo em tom de surpresa.
Galípolo também levantou questionamentos sobre a eficácia dos juros altos no controle da demanda, mencionando a existência de possíveis "canais entupidos" na economia. Essa observação sugere uma preocupação com a capacidade do BC de atingir suas metas de inflação, mesmo com a manutenção de uma política monetária restritiva.
A firmeza demonstrada por Gabriel Galípolo sinaliza um possível desalinhamento entre o Banco Central e o governo Lula, colocando em xeque a promessa de uma política econômica mais favorável ao crescimento. Resta saber se essa postura independente persistirá e quais serão os próximos capítulos dessa relação tensa entre o BC e o Palácio do Planalto.
A próxima reunião do Copom será crucial para confirmar a direção da política monetária sob a liderança de Galípolo. O mercado e o governo estarão atentos para verificar se o "menino de ouro" de Lula manterá a ortodoxia em defesa da estabilidade dos preços ou se cederá às pressões por uma guinada na política econômica.
Enquanto isso, a postura de Galípolo no Senado reacende o debate sobre a autonomia do BC e sua capacidade de resistir às interferências políticas em nome da estabilidade econômica.
*Reportagem produzida com auxílio de IA