O futebol brasileiro vive um paradoxo: apesar do aumento expressivo nas receitas, os clubes continuam a se endividar. Em 2024, a receita total dos clubes alcançou cifras bilionárias, impulsionada pela valorização nas transferências de jogadores e pelo crescimento das receitas de marketing.
As transferências de jogadores movimentaram R$ 2,9 bilhões, um aumento de 53% em relação ao ano anterior. As receitas de marketing cresceram 36%, atingindo R$ 1,9 bilhão. A bilheteria e os estádios somaram R$ 1,1 bilhão, um aumento de 22%, enquanto os programas de sócio-torcedor ultrapassaram os R$ 850 milhões, com um crescimento de 17%. Os direitos de transmissão, a principal fonte de receita, totalizaram R$ 3,3 bilhões, impulsionados pela formação de duas ligas que negociam os direitos: a Libra e a Forte.
No entanto, os clubes seguem gastando mal e se endividando mais rápido do que conseguem gerar caixa. Os juros elevados e a dependência de empréstimos bancários e refinanciamentos de dívidas fiscais são os principais responsáveis pelo rombo financeiro. Em 2024, as despesas financeiras consumiram mais de R$ 1,5 bilhão.
As dívidas fiscais totalizam R$ 2,6 bilhões, representando 22% do passivo total dos clubes. O Corinthians lidera o ranking de endividados, com R$ 1,9 bilhão (R$ 1,2 bilhão, desconsiderando a Arena). Em seguida, aparecem Atlético-MG (R$ 1,4 bilhão), Cruzeiro (R$ 981 milhões), Vasco da Gama (R$ 929 milhões) e São Paulo (R$ 853 milhões).
O modelo de endividamento crônico sufoca financeiramente os clubes, que gastam mais pagando juros a instituições financeiras do que investindo em reforços ou estrutura. A falta de planejamento financeiro sólido, a alta rotatividade de dirigentes, a falta de governança e o uso político das agremiações são fatores que contribuem para essa situação.
Contratações mal planejadas e a falta de paciência em seguir uma diretriz também têm agravado a situação financeira dos clubes. O Fluminense contratou Douglas Costa, que não marcou gols em 22 jogos e rescindiu o contrato antes do fim da temporada. O Corinthians investiu 4,5 milhões de euros em Pedro Raul, que marcou apenas quatro gols em 39 partidas.
Os clubes também enfrentam custos elevados com a troca frequente de técnicos. O Corinthians gastou mais de R$ 15 milhões em 2024 com as demissões de Mano Menezes e António Oliveira, incluindo multas rescisórias e custos associados às mudanças na comissão técnica. Esse tipo de despesa compromete ainda mais o orçamento das entidades.
O resultado é um cenário de instabilidade financeira que afeta os investimentos de longo prazo e mina a competitividade internacional dos clubes brasileiros. A gestão amadora continua a ser a principal barreira para o sucesso do futebol brasileiro, mesmo com o talento dos jogadores e o aumento de público.
*Reportagem produzida com auxílio de IA