Baile no Campo Cira

Leilão de gado, tatersal do Corixão

Foto: Leonardo Leite de Barros - Baile no campo Cira

Foto: Leonardo Leite de Barros - Baile no campo Cira

Leilão de gado era novidade no Pantanal, tio Zé Lima sentado no fundo do tatersal recém inaugurado do Corixão. Ressabiado olhava o vai e vem de gente, o som estridente do leiloeiro, o grito da peonada do manejo e o gado entrando e saindo do redondel.

Leilão chegando ao seu final, o sábio pantaneiro me chamou, fez várias perguntas sobre o negócio, quiz saber sobre pagamentos, garantias, despesas e outras implicações, ficou satisfeito. Ao final ordenou com carinho; " Sinjãozinho, tem uma novilha gorda carneada no Campo Cira, Joci e Zezinho já estão avisados, agora é com você, leva o som, o bar e as pisteiras para não ficar pouca dama, vai ter baile"

Riscou o primeiro Chamamê na entrada do sol, o barulho de botina e chinelo raspando o chão do salão de baile não parou mais. Quem ficou até o fim viu o velho Zé Lima dançando a última peça.

A barra do dia ainda não tinha rasgado a escuridão, um barulho esquisito e intermitente me acordou. Tinha armado minha rede no pátio, perto do mangueiro. Avistei um vulto vindo no trilheiro junto com o barulho. Tio Zé Lima sentado em um carrinho de mão conduzido por um guri; " bom dia Sinjãozinho, volta para sua rede, vou no mangueiro tomar um leite e descansar. Baile deu gordo, o pé tá lastimado. Agora é comer carne gorda e dançar a matinê, as damas já estão desaguachadas"

José Coelho Lima foi exemplo de empresário empreendedor, a pecuária pantaneira deve muito a ele. Imbatível no salão de baile.

Zé Lima e Sinjão estão em alguma vazante desse universo celestial, a nós resta cultuar nossos heróis.

Por: Leonardo Leite de Barros