PRIVADOS DE LAR: Desocupação deixa cerca de 50 famílias sem teto próximo ao Jardim Paris

Ação da Semadur, com apoio da Guarda Municipal, aconteceu menos de 24 horas depois que os barracos começaram a ser erguidos

Com ajuda da Guarda Municipal, barracos foram derrubados cerca de 24h depois do início das construções - Gerson Oliveira/ Correio do Estado

Com ajuda da Guarda Municipal, barracos foram derrubados cerca de 24h depois do início das construções - Gerson Oliveira/ Correio do Estado

Na manhã de ontem aniversário de Campo Grande (26 de agosto), cerca de 50 famílias que tem a Cidade Morena como seu lar, amanheceram com a notícia de que seus barracos, recém erguidos atrás do Jardim Paris (próximo ao bairro Los Angeles), na noite anterior, seriam derrubados.

Em ação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), com apoio da Guarda Municipal, antes do fim da tarde os barracos já haviam sido retirados da área pública invadida, pertencente à Prefeitura.

"Acho que teve uma denúncia. Nós viemos para desocupar, pois esse pessoal já tinham invadido outras áreas (públicas), que tiramos há dois meses atrás, agora invadiram aqui. Desocupamos a área com força policial", comenta José Antônio, auditor fiscal da Semadur.

Conforme o funcionário da Secretaria, os barracos do local estavam no início de suas construções e, segundo ele, não haviam moradores nas casas.

"Nossa ação é justamente preventiva, começou a invasão a gente vem, para evitar ter que desocupar quando estiverem morando. Geralmente, antes deles fixarem residência a gente tira", explica ele.

José Antônio explica que, constantemente, a Guarda Muncipal, chamada para ação de desocupação, tem o costume de monitorar as áreas públicas.

"A gente fica sabendo através de denúncia do pessoal mesmo, pois eles começam a fazer tumulto aqui, a gente vem e age antes que eles se instalem definitivamente. Mas aqui não tinha ninguém morando, estava bem no começo", reforça o auditor.

"Cabo de guerra"

Questionado se esses casos são frequentes, o auditor fiscal confirma que sim, apontando que a região do Anhanduizinho é um dos locais que mais registram invasões.

"E é difícil uma área aqui que não sofreu [invasão], praticamente todas. Tem um grupo que monitora essas áreas, tá tudo lá, a gente troca mensagem e num instantinho a gente providencia e vem. Porque a coisa tem que ser rápida", revela ele.

Ainda, o representante da Guarda Municipal no local evidenciou que, diante de alguns pedaços de pau levantados no local, a máquina chegou e derrubou tudo na tarde de hoje (26).

"Algumas pessoas estão reclamando aí, que estão desempregadas, não tem onde morar, mas eles precisam procurar os meios legais para isso. A gente só está aqui para cumprir o que a lei determina", disse.

Do lado da população, Israel de Moura Silveira, mecânico de 22 anos, morava ocupação desde a manhã de quinta-feira (25), e revela que a aproximação da Guarda não foi "tranquila" como aponta a força armada.

"Eles ameaçaram dar tiros de borracha, com criança tudo aqui. Se os caras não tem filho, a gente tem família. A boa atitude deles chegou com patrola e tudo ali, pedindo para não filmar também. Mas gostaríamos de uma resposta deles, queremos o ofício que está no celular dele", salientou o morador.

Sem sequer visualizar a ordem para desocupação, os moradores tiveram seus barracos retirados do local enquanto diziam, em vão, que não iriam deixar o espaço sem ver o ofício.

"Tava tudo com barraco aí, já tiraram. Veio um caminhão branco que já levou até as madeiras. Só estavam esperando esse que tinha a família dentro morando, com criança... os outros eles passaram por cima de tudo", afirmou Israel.




Ainda, os moradores revelam que houve truculência durante a primeira abordagem da Guarda Municipal.

"Todos aqui não tem para onde ir. Nós queríamos dar um apoio e chegaram dando a porrada na molecada, sem ninguém fazer nada. Eles dando tiro, vai matar todo mundo então. Queremos que venha alguém, que resolva alguma coisa para a gente", alega ainda o mecânico.

Além dele, outra moradora que estava entre o grupo revelou que, além de lidar com a intimidação da desocupação, é difícil achar espaço para aturar o julgamento da sociedade, que muitas vezes celebra situações como essa.

"Ali é condomínio particular, e acho que foram eles que chamaram problema para a gente, porque eles tem casa e nós não. Ficam debochando da nossa cara, enquanto a patrola passava, um carro passou e gritou 'irrúú'", comenta uma moradora.

Operado, Ricardo Douglas Evaristo, de 45 anos, revela a situação em que vivia com seus quatro filhos.

"Chegaram meteram a patrola e minhas coisas estão na rua. Falou que se a gente não tirassem iriam passar por cima. Eles chegaram bravo, com a arma mostrando para os meus quatro filhos", expõe ele.

Diante dessas alegações, o representante da Guarda Municipal argumentou que não houve violência, uma vez que, segundo ele, os equipamentos - como o gás lacrimogêneo, ou balas de borracha para dispersão - não foram usados.

"Eles tentam alegar, a gente tenta conversar às vezes, mas nada de violência. Não houve resistência, num momento eles até querem ficar, mas conversando eles acabam entendendo que, na situação, é melhor eles saírem do que, às vezes, serem prejudicados", disse

Por fim, Ricardo Douglas revela que sua casa estava pronta, e agora precisa juntar cada uma de suas coisas do chão.

"E aqui é uma área da Prefeitura, não é particular. Eles não podem chegar e fazer o que fizeram, precisa da ordem que não mostraram. Trataram a gente igual animal. A gente pode ser pobre, mas não tem vagabundo, nem malandro aqui", finaliza ele.

Dessa operação, além das casas derrubadas, foram apreendidas duas motocicletas, pois estavam com documentação do IPVA atrasadas e, segundo a Guarda Municipal, sem placa.

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