Churrasco gaúcho pode ser feito apenas no espeto?

A verdade é que não dá para resumir a cultura do assado em um parágrafo único

O que define o churrasco gaúcho? Anahís Vargas / Agencia RBS

O que define o churrasco gaúcho? Anahís Vargas / Agencia RBS

Você já deve ter escutado que "se o churrasco gaúcho não for no espeto, não é churrasco". Pode até ser de paulista, carioca ou mineiro, preparado na grelha, com arroz de acompanhamento e otras cositas más. Mas, vamos combinar, já está na hora de admitir que o churrasco gaúcho é muito mais do que só no espeto.

Claro que temos as nossas preferências e hábitos - ok - mas o churrasco é um mundo de possibilidades. Basta circular pelo Rio Grande do Sul e olhar para a nossa história e cultura para perceber a miscigenação que aconteceu por esses pagos, desde a chegada dos portugueses e espanhóis, onde encontraram os povos originários, e, depois, tantos outros povos vindos de vários cantos do mundo, principalmente, da Europa Ocidental, Oriental e da África.

Nossa maior riqueza, quando falamos em churrasco, é sermos uma mistura de culturas do fogo que, unidos, influenciamos essa diversidade gastronômica as redor das chamas e da brasa.

Prestem atenção: cada região tem suas técnicas, seus cortes e ingredientes preferidos, e, além das chamas e da brasa, tem a mesa posta, as entradinhas, os acompanhamentos, as sobremesas, as bebidas e as conversas. São tantas camadas, que não nos damos conta do quanto essa mistura de cultura alimenta o estômago e a alma.

Como apaixonada e atenta a tudo isso, acho fundamental valorizar e dar "nome aos bois", como se diz por aqui. Do campo à mesa e da entrada à sobremesa, observe, por exemplo, a contribuição dos índios, italianos, alemães, portugueses e africanos, só para começar. De onde você acha que vem o espeto, a grelha, o fogo de chão e a trempe? E a charcutaria, a farinha de mandioca, a salada de batata e os picles? E os temperos e a salga? E, ainda, a cultura pecuária bovina, suína e ovina?

São muitas e muitas camadas de cultura e sabores no churrasco. Cada um com seu jeito, contribuindo e agregando histórias e ancestralidade à nossa mesa.

Não dá para resumir o churrasco gaúcho em um parágrafo único. Desde o fogo mais primitivo das cavernas, para além das tribos remotas no início da civilização, aos primórdios da formação do Rio Grande do Sul, somos feitos de costuras infinitas de possibilidades, potência de sabores e encontros e só precisamos de pertencimento, amor, cuidado e proteção. E nada melhor do que um churrasco para nos unir e proporcionar tudo isso.

#avozdomsnews