Ato na paulista mostra força de Bolsonaro

Bolsonaro reúne mais de 1 Milhão de apoiadores na Paulista

Ato na paulista mostra força de Bolsonaro

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ocupam, na tarde deste domingo, parte da Avenida Paulista, em São Paulo, numa manifestação convocada pelo ex-titular do Palácio do Planalto para demonstrar apoio em meio às investigações da Polícia Federal (PF) por suposta tentativa de golpe de Estado.

O ato começou, oficialmente, às 14h, mas desde o início da manhã a avenida, um dos cartões postais da capital paulista, já registrava movimentação intensa, com a presença de apoiadores do ex-presidente vestindo camisas verde e amarelo, além de bandeiras do Brasil, de Israel e de Bolsonaro estendidas nas calçadas. O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) ficou fechado neste domingo por conta da manifestação.

Mais de 1 milhão de pessoas compareceram no ato promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O evento contou com a presença de 150 parlamentares federais e estaduais, além dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, de Minas Gerais, Romeu Zema, de São Paulo, Rodrigo Garcia, e de Santa Catarina, Carlos Moisés.

A imagem aérea captada por helicópteros é impressionante: desde 2016, no auge do precessão de impeachment de Dilma Rousseff, o país não se mobilizava com tamanha intensidade. O ponto central foi dito pelo próprio Bolsonaro: "Como temos um presidente sem o povo?", em referência à solidão de Lula nas ruas e nas redes sociais.

Foi Bolsonaro quem chamou as passeata nas redes sociais: ele pediu que os brasileiros ouvissem, em praça pública, sua defesa das investigações da polícia federal, a mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Manifestação

Bolsonaro chegou à Avenida Paulista às 14h40 e subiu ao trio elétrico por volta das 15h, ao lado de sua esposa Michelle Bolsonaro, e estendeu uma bandeira de Israel e depois cantou o hino nacional. Junto a ele no trio, estavam os senadores Magno Malta (PL-ES) e Marcos Pontes (PL-SP), o pastor Silas Malafaia, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (PL), de Goiás, Ronaldo Caiado (União) e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), além do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e vários deputados federais, como Marcos Feliciano (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO).

Ao empunhar o microfrone do trio elétrico momentos antes do encerramento do ato, Jair Bolsonaro (PL) disse que "passou quatro anos perseguido" e que "essa perseguição aumentou" desde que deixou a presidência da República, e negou que tenha tentado dar um golpe de Estado. Também pediu que se passasse uma "borracha no passado" e anistia para os presos do 8 de janeiro.

— "Bolsonaro queria dar um golpe". Isso sempre ouvi desde que assumi. O que é golpe? É tanque na rua, é arma, é conspiração, é trazer classes empresariais para seu lado, nada disso foi feito no Brasil. Nada disso eu fiz, e continuam me acusando por golpe. Golpe usando a Constituição? Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da república convocando os conselhos da república e da defesa, apesar de não ser golpe o estado de sítio não foi convocado ninguém dos conselhos da república e da defesa. O segundo passo do decreto do estado de sítio, ele manda uma proposta para o parlamento — falou.

Pouco mais de uma hora antes, Michelle foi a primeira a falar ao público. Num discurso emocionado, em tom religioso, ela lembrou da facada que atingiu o marido em 2017, citou "ataques e injustiças" e chamou os apoiadores do ex-presidente de "um povo de bem, que defende valores e princípios cristãos".

— Estamos sofrendo porque exaltamos o nome do senhor no Brasil. Porque meu marido foi escolhido e declarou que era Deus acima de todos — disse a ex-primeira-dama. — Não tem sido fácil, mas estamos de pé.

Michelle, que propôs uma oração no ato e abençoou o povo de Israel, não citou Lula, mas disse que o Brasil está sendo mal administrado e foi ocupado pelo "mal". A ex-primeira-dama foi aclamada pelo público.

Ex-presidente Bolsonaro e governador de SP Tarcisio de Freitas em ato na Avenida Paulista — Foto: Reprodução YouTube

Já Tarcísio usou sua fala para relembrar feitos do governo Bolsonaro como o auxílio-emergencial, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o Marco Legal do Saneamento Básico, e o Pix (que foi uma iniciativa do Banco Central). O governador chamou Bolsonaro de "amigo" e disse que o ato celebra o "Estado democrático de direito" e exaltou a "liberdade de expressão e de manifestação".

— Meu amigo Bolsonaro, você não é mais um CPF, não é mais uma pessoa, você representa um movimento, você representa todos eles que aprenderam, que descobriram que vale a pena brigar pela família, pela pátria, pela liberdade, você nos mostrou caminhos, e nesse dia a única coisa que podemos dizer é obrigado, Bolsonaro, nós sempre estaremos juntos. Fique com Deus, presidente — falou.

Único a citar o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, o pastor Silas Malafaia (responsável por pagar o trio onde está Bolsonaro) criticou duramente a declaração de Lula em relação aos conflitos no Oriente Médio, em que comparou os ataques à Palestina ao Holocausto, e dedicou um amplo tempo de seu discurso para rememorar as últimas eleições presidenciais. Malafaia a certa altura disse que há uma "engenharia do mal" para prender o ex-presidente Bolsonaro. Ao logo de seu discurso, o pastor citou o 8 de janeiro — que classificou um ato de "baderneiros" — embora tenha lamentado a prisão de algumas figuras que estavam no local no momento em que houve o ataque à Brasília. O discurso foi o mais inflamado da manifestação.

— Baderneiros que nós não concordamos quebraram Brasília. Começou ai a narrativa de golpe — afirmou ele, que classificou Bolsonaro como o "maior perseguido político" da história. — Golpe contra um mandatário tem arma, bomba. Uma mulher com uma bíblia e um crucifixo, católica, que entrou no Senado e sentou na mesa do presidente do Senado golpista (pegou) 17 anos de cadeia.

Em muitos dos ataques que fez a Moraes, acusou o ministro de "ter lado" e de ser responsável pela morte de Cleriston Pereira, bolsonarista que participou da invasão da sede dos Três Poderes e morreu ao longo da prisão no Complexo da Papuda. Ele afirmou que "sangue de Cleriston está nas mãos de Moraes."

O convite para o ato numa das mais emblemáticas vias da capital paulista surgiu após a PF implicar Bolsonaro e a cúpula de seu governo em uma suposta tentativa de golpe. Entre as provas já divulgadas estão um texto, encontrado na sala de Bolsonaro na sede do PL em Brasília, com argumentos para a decretação de estado de sítio e de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Além do vídeo de uma reunião ministerial datada de 5 de julho de 2022 na qual Bolsonaro instiga seus ministros a lançarem ataques contra o sistema eleitoral. As imagens foram citadas pela PF como indício de uma suposta "dinâmica golpista" dentro do governo, no âmbito de um inquérito que tramita no STF.